Na praia, uma criança constrói um castelo de areia. Por um momento, contempla admirada a sua obra. Depois destrói tudo e constrói um outro castelo. Da mesma forma, o tempo permite que o globo terrestre realize seus experimentos (...). Na Terra, a vida pulsa de forma desordenada, até que um belo dia nós somos modelados, com o mesmo frágil material de nossos antepassados. O sopro do tempo perpassa, nos carrega e se incorpora a nós. Depois se desprende de nós e nos deixa cair. Somos arrebatados como num passe de mágica e depois novamente abandonados. Sempre há uma coisa fermentando, à espera de tomar nosso lugar. Isso porque não temos um solo firme sob os nossos pés. Não temos sequer areia sob nossos pés. Nós somos areia (...). Não há um lugar onde possamos nos esconder para escapar do tempo (...). Podemos escapar de reis e imperadores, e talvez até de Deus, mas não podemos escapar do tempo. O tempo nos enxerga em toda a parte, pois tudo à nossa volta está mergulhado nesse elemento infatigável (...). O tempo não passa (...) e não é um relógio. Nós passamos e são os nossos relógios que fazem tique-taque. O tempo vai devorando tudo através da história, silenciosa e inexoravelmente, como o sol se levanta no Leste e se põe no Oeste. Ele destrói civilizações, corrói antigos monumentos e engole gerações atrás de gerações. Por isso é que falamos dos “dentes da engrenagem do tempo”: O tempo mastiga, mastiga... e somos nós que estamos no meio de seus dentes (...). Por um breve espaço de tempo fazemos parte da extraordinária agitação deste mundo. Andamos pela Terra como se fosse a coisa mais evidente do mundo (...), mas toda aquela agitação vai desaparecer. Vai desaparecer e ser substituída por outra, pois sempre há outras pessoas prontas, à espera. Sempre surgem novas idéias. Nenhum tema se repete, nenhuma composição é escrita duas vezes... Nada é tão complicado e precioso quanto o ser humano (...), apesar disso, somos tratados como futilidades baratas! (...). Vagamos por esse mundo como personagens de uma aventura maravilhosa (...). Cumprimentamo-nos e sorrimos uns para os outros (...), mas logo seremos varridos do tabuleiro (...). Podemos dizer, de braços abertos, que existimos. Mas logo somos colocados de lado e enfiados no saco das trevas da história. Pois somos criaturas sem retorno...