sábado, 14 de novembro de 2009

Deus e a Origem do Universo


Uma das grandes questões da humanidade é a origem do universo. Como tudo veio a existir? Um Deus criou o universo ou ele sempre existiu? Se tudo que existe necessitou ser criado, quem criou Deus? Se Deus é eterno e não precisou ser criado, a mesma explicação não poderia ser aplicada ao universo? Se a complexidade do universo é prova da existência de um criador, a complexidade do criador não é prova de que ele também foi criado? Se tudo no universo tende do mais simples ao mais complexo, um ser criador, onipotente e onisciente seria mais simples que aquilo que criou? O que levou um ser perfeito a criar o universo se nunca precisou de nada? Estas são apenas algumas das inúmeras questões que demonstram que a crença em um Deus criador suscita mais questões que as soluciona.

Segundo a ciência, que responde às dúvidas humanas através de investigações, não através do que parece óbvio à primeira vista, o universo teve sua origem há aproximadamente 13.7 bilhões de anos com um evento chamado Big-Bang. Embora ridicularizada pela massa crente em Deus, a “grande explosão” não deve ser julgada pelo seu rótulo, mas pelas provas materiais que apresenta, assim como não se deve julgar uma pessoa pelo seu nome. De fato a forma atual do universo e seu comportamento apresentam características de que este partiu de um único ponto. As galáxias, por exemplo, se afastam umas das outras para todas as direções, demonstrando que o universo está em expansão a partir de um único ponto original. Uma radiação emitida por todo o universo, chamada de freqüência de background, também informa que todas as partículas que o compõe um dia estavam em um mesmo local, ou seja, embora o universo seja extremamente grande para os padrões humanos, ele é um único ponto em expansão. Devido às grandes dimensões do cosmo, as luzes das estrelas remotas necessitaram de muitos anos para alcançarem a Terra, permitindo aos astrônomos medirem a idade do universo conhecido, revelando não milhares de anos como a cultura primitiva acreditava, mas bilhões de anos. O decaimento atômico de alguns elementos naturais, as alterações geológicas e a deriva continental demonstram uma gradativa evolução da Terra, permitindo cálculos que revelam sua idade em torno de 4,6 bilhões de anos. Observações da matéria em aceleradores de partículas demonstram que as dezenas de partículas subatômicas como os prótons, nêutrons e elétrons são formados a partir de apenas 6 sub-partículas chamadas quarks. Estudos sobre o nascimento e morte das estrelas mostram que em seu interior todos os elementos foram formados a partir do hidrogênio, o elemento mais simples. Estes fatos observados na matéria, na Terra, no sistema solar, assim como em todo o universo, revelam uma evolução natural que parte do mais simples ao mais complexo sem necessidade de controle ou intervenção de um ser inteligente.
Embora as investigações científicas demonstrem que a criação bíblica não existiu, pelo menos não na forma literal, não se pode descartar a possibilidade de um criador que deu origem ao Big-Bang. Mesmo que se encontrem eventos sucessivos anteriores ao Big-Bang, não se pode descartar que um deus tenha originado o primeiro deles. De fato a ciência elimina o deus bíblico literal, mas não todos os deuses cuja mente humana possa imaginar. Se após árdua pesquisa nosso leitor fosse convencido que a ciência está certa quanto à origem da forma atual do universo e que os textos bíblicos são apenas crenças de povos primitivos registradas por Moisés, ainda lhe restaria um número incontável de questões, acerca da origem da moral, da inteligência, dos sentimentos, cultura, etc., cujo curto tempo de vida humano não permitiria estuda-los em sua totalidade a fim de concluir que também não tiveram origem em Deus. Isso revela que Deus tem sua morada na dúvida e falta de conhecimento humanos, ou seja, imagina-se que aquilo que não se sabe a origem foi criado por um deus cuja origem, ironicamente, é desconhecida. Este sentimento acerca de Deus remete à infância humana onde os pais são responsáveis pela vida dos filhos, para os quais não interessa de onde os pais vieram, mas o que podem fazer para o bem-estar deles. Como o que motiva a vida humana para alcançar seus objetivos é o sentimento – e a razão é apenas uma ferramenta a serviço dele – dificilmente alguém se desvincula da crença em uma mente controlando seu universo como os pais faziam com seu universo infantil. De fato a crença em Deus está no plano emocional (fé) e não no racional. Quando alguém valoriza a vida acima das crenças religiosas, acima dos deuses de sua mente, percebe que Deus é mais aquilo que se acredita do que um fato, e entende que para tudo aquilo que ainda não se tem explicação real Deus é uma explicação paliativa.
Os primitivos acreditavam que tudo era diretamente influenciado por Deus ou entidades espirituais. A
chuva, a boa colheita, a seca e as pragas tinham origem divinas; os trovões eram a voz proveniente diretamente da boca dos deuses e dos anjos. As doenças, por exemplo, eram castigos divinos até à invenção do microscópio que possibilitou a descoberta dos agentes patológicos, mas a fé deu um jeito de elevar os vírus e bactérias a status de agentes das maldições divinas, ou seja, sempre que a ciência descobre a origem real de um fato, a divindade é forçada a abandonar seu lar original e encontrar moradia mais adiante, naquilo que ainda não se descobriu a origem: “A doutrina de um Deus pessoal interferindo com os eventos naturais nunca poderá ser refutada pela ciência, pois essa doutrina pode sempre se refugiar naqueles domínios nos quais o conhecimento científico ainda não foi capaz de pôr o pé” (Albert Einstein). É importante observar que o maior dos físicos, se acreditava na existência de Deus, não o considerava pessoal como crê o religioso.
Embora a fé e a razão do crente apontem para um Deus, as descobertas científicas baseadas em provas materiais e fatos advertem que não se deve afirmar categoricamente que o universo é fruto da mente de um ser, pois as investigações demonstram que o seres vêm do universo e não o universo dos seres, que a inteligência é fruto da existência e não a existência fruto da inteligência, que o complexo vem do que é simples e não o simples do complexo. Da mesma forma Deus está muito mais para criação da mente de um ser contido no universo do que para criador deste universo, cuja origem primeira ainda é uma incógnita.
Fonte:O Bom Herege - razão, fé, ciência e religião